O prato que a Maria Isabel, do blogue Lérias e Velharias, mostrou no último post http://leriasrendasvelhariasdamaria.blogspot.com/2011/01/faianca-de-fervenca.html faz-me lembrar este meu, que também comprei como Fervença.
As ramagens são do mesmo tipo, só que neste caso a formar cercadura, e há várias cores coincidentes: o laranja, o vinoso acastanhado, o azul e o amarelo. Este meu prato tem cerca de 32 cm de diâmetro e é feito numa pasta fina, mais fina do que qualquer dos outros pratos grandes que tenho em faiança. Tem um cabelo, de resto está em bom estado, mas não foi nada caro.
No site de um antiquário de Vila Nova de Gaia, encontrei este outro exemplar com cercadura semelhante e também atribuído à Fábrica da Fervença.
A verdade é que a Fábrica de Viana, instalada em Darque em 1774, também utilizou este tipo de decoração, pelo menos numa moringa que se pode ver no 1º volume da Faiança Portuguesa séculos XVIII-XIX, de Arthur de Sandão, p.252. Ainda na mesma obra, mas no 2º volume, p. 180, encontrei um prato da Menina Gorda da Fábrica da Bandeira com ramos soltos deste tipo, à volta do motivo central.
Torna-se assim muito difícil ter certezas. De qualquer forma, como o nome Fervença vem sempre à baila, e muitas vezes associado a fabrico Bandeira, vou falar um pouco sobre estas duas fábricas.
Prato de Viana da colecção do Museu Soares dos Reis |
A Fábrica da Fervença foi fundada em Vila Nova de Gaia, já em pleno séc. XIX (1824), cerca de dez anos antes da sua congénere Fábrica da Bandeira, fundada na mesma localidade em 1835. Talvez por esta proximidade geográfica e laboração em simultâneo, já que ambas terão encerrado no início do séc. XX em data não apurada, estejam tão próximas nos motivos e cores utilizadas e, na ausência de marcas, facilmente se confundirem.
Também é certo que na mesma altura, em Gaia, proliferavam as fábricas de faiança: para além das duas já referidas, existiam as de Afurada, Cavaquinho, e Sto. António de Vale da Piedade, estas vindo já do séc. XVIII, a que se vieram juntar as da Torrinha, Senhor d'Além e Devezas um pouco mais tarde. A existência de oito fábricas num espaço que se imagina restrito, à época, pressupõe contactos entre elas e uma constante mobilidade de trabalhadores, resultando em influências mútuas na produção cerâmica.
Voltando à Fábrica da Fervença, é possível identificar com certeza algumas peças que apresentam uma marca R, provavelmente do pintor Ramalho, sendo reconhecida à sua faiança uma qualidade de destaque entre as suas congéneres, graças à pasta fina e ao cuidado posto nas decorações, com ricos tons amarelos e alaranjados.
Entretanto, o Mercador Veneziano enviou-me fotografias dum prato exactamente igual ao meu, que tirou dum catálogo de 1990 da leiloeira Palácio do Correio Velho.
Também neste caso o fabrico é atribuído à Fábrica da Fervença.
Cara Maria Andrade
ResponderEliminarFoi uma feliz e útil coincidência o seu post sobre a Fábrica da Fervença coincidir com o meu post sobre a Bandeira. Os dois assuntos completam-se perfeitamente e a Maria Andrade mostrou bem que todas estas fábricas são praticamente vizinhas, com os mestres e aprendizes a circularem de um lado para o outro, levando técnicas e tiques de pintura.
Além de tudo mais, acrescento eu,o conceito de copyright, ou em Português direito de autor, era completamente desconhecido na época.
Julgo que nesta comunidade de bloguers ou bloguistas, andamo-nos a desafiar uns aos outros, cada qual tentando saber mais sobre os assuntos de faiança e velharias e tudo isso está revelar-se muito positivo do ponto de vista do saber e da nossa valorização como indivíduos.
Abtraços
Olá Maria Andrade
ResponderEliminarBelo exemplar este seu prato a reivindicar a olaria de Fervença.
Adorei sobretudo os arabescos em cor de vinho escuro no contraste das outras cores fortes.
Muito bonito, também da demais informação sobre a fábrica e outras que na mesma zona laboraram e copiam os desenhos e a técnica das cores,que reconhece-las só mesmo pela textura da massa, e cozedura.
Um bom exemplar de faiança, sem dúvida.
Beijos
Isabel
Luís, é verdade aquilo q diz, tem sido muito estimulante este intercâmbio bloguista e por isso até me tenho afastado um pouco das q eram as minhas prioridades iniciais. Tinha intenção de escrever mais sobre porcelana europeia, de q tenho algumas peças, principalmente inglesas mas também alemãs, francesas... e também mais sobre livro antigo.Afinal dou por mim a entusiasmar-me com as faianças e quase daí não tenho saído... Mas não me queixo, tem sido bastante proveitoso e agradável...
ResponderEliminarAbraços
Olá Maria Isabel
ResponderEliminarPara lhe ser franca, gosto mais do seu prato do q do meu. Acho o seu mais autêntico, deve ser mais antigo, não sei... Acrescentei aqui o prato de Viana por achar q aqueles ramos soltos são muito parecidos com os do seu. A Fábrica de Viana é bem mais antiga q a da Fervença ou da Bandeira e provavelmente influenciou estas fábricas de Vila Nova de Gaia, mas continuo a falar só no campo das hipóteses...
Beijos
Uma feliz coincidência de "posts", onde me foi permitido ver mais exemplares.
ResponderEliminarÉ da observação cuidada e estruturada de peças que surge mais algum conhecimento sobre o nosso panorama cerâmico, e, ainda que se continue no campo da especulação, quanto mais fundamentada ela for, melhor será o caminho para o seu estudo.
Quanto ao prato que aqui coloca, mercê da qualidade do desenho da decoração, e face ao que me foi dado ver identificado com "Bandeira", faz com que eu me incline mais para que ele pertença a esta fábrica, em detrimento da de Fervença.
Parece no entanto ser consensual que ele pertencerá a uma fábrica do Norte, e qualquer das hipóteses é plausível.
Tenho a agradecer o ter mencionado o percurso histórico das fábricas e em como é perfeitamente compreensível que elas se influenciassem todas de uma forma natural e lógica. Factos muito importantes para perceber a dificuldade em classificar a faiança de toda esta época.
Manel
Pois é, Manel, com a proximidade entre as fábricas e a semelhança de motivos decorativos e de cores, o melhor é abstermo-nos de falar em nomes, Fervença ou Bandeira e identificar apenas como faiança de Vila Nova de Gaia, até porque a Afurada, por exemplo também tem coisas semelhantes.
ResponderEliminarAgora vou ter mais peças boas de faiança portuguesa para mostrar, graças a uma boa colecção de antiguidades que têm uns primos nossos e grande parte dela é de faianças. O pior é q assim ficam pra trás outras peças de q gostaria de falar, mas lá chegarei... Este adiamento é por uma boa causa! Assim, esta espécie de forum sobre faianças q se criou aqui vai ser cada vez mais enriquecido e útil.
Abraços
olá boa noite.
ResponderEliminarna sequência do último desafio que deixou referente ao jarro de decoração neoclássica, andei a folhear os meus livros e catálogos relativos à faiança portuguesa e dei de caras com um prato extremamente semelhante ao seu em que também atribuem um provável fabrico de Fervença.
pela extrema semelhança entre pratos, se tiver interesse em que tire umas fotos, já sabe, é só contactar-me. as fotos não serão de grande qualidade visto a peça estar catalogada com uma dimensão reduzida, mas dá para comparar semelhanças.
Mercador Veneziano
Caro Mercador Veneziano,
ResponderEliminarMuito obrigada por se ter dado ao trabalho de procurar peças em resposta ao meu apelo. É claro q gostaria q me enviasse essas fotos por e-mail. Como diz, vão dar para comparar as decorações e é mais um dado a favor da identificação desta e doutras peças.
Fico a aguardar o envio, quando puder.
Tenha uma boa noite.