sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Azulejos de fogão Arte Nova


O que me atraiu em primeiro lugar nestes azulejos foi o belo motivo floral em linhas Arte Nova.
Andei algum tempo a namorá-los, a vendedora pedia um preço acima do que estou habituada a pagar por azulejos dos século XIX e XX, mas eu não deixava de me sentir tentada, tratando-se do estilo Arte Nova que eu tanto aprecio.
Mas também me movia a curiosidade, não me pareciam bem azulejos tal como os conhecemos por cá. Pela forma e dimensões desconfiei desde o início de que se trataria de peças para revestimento dos grandes fogões de sala que eu já tinha visto em visitas a museus e palácios por essa Europa fora, além Pirinéus.


Acabei por comprar dois exemplares  com redução de preço (repeti a foto para ampliar o efeito) e vim para casa toda contente com eles, a estudar o local onde ficariam melhor, até agora sem grande sucesso...



 Entretanto,  fui tentar confirmar a ideia que tinha quanto ao uso que lhe era dado - para isso precisava de encontrar um não aplicado para ver a forma do tardoz - e eram efetivamente o que eu pensava.

Ravensburg stove do Museu Victoria & Albert em Londres

Fogão de cerâmica francês - séc. XIX

Fogão de cerâmica do Palácio de Catarina da Rússia em S. Petersburgo - foto da Wikipedia
O primeiro fogão de cerâmica ou de azulejos que vi foi na Áustria, onde se chama Kachelofen. É da mesma zona, de Ravensburg no sul da Alemanha, o primeiro exemplar que aqui mostro, datado pelo Victoria & Albert de cerca de 1450, mas segundo a Wikipedia, a tecnologia remonta ao tempo dos romanos e  ao seu hipocausto. Sendo um processo muito eficaz para a irradiação e manutenção de uma temperatura amena constante, é bastante económico em materiais de combustão, em geral a madeira, mas também palha ou aparas, por isso estão de novo a ser construídos e utilizados, pelo menos na Áustria.

Construção de um Kachelofen - foto da Wikipedia
A propósito do comentário do LuisY, resolvi acrescentar aqui o único exemplar que encontrei em museus portugueses, no Museu da Cidade em Lisboa, só que uma beleza e raridade destas encontra-se nas reservas...

Fogão em faiança da Real Fábrica de Louça ao Rato (1780-1816)
E agora, semanas depois de ter publicado o post, acrescento mais um fogão do tipo Kachelofen  existente nos nossos museus nacionais.



Trata-se do fogão que o LuísY referiu no seu comentário, existente no Palácio Nacional da Ajuda, na zona dos serviços da Secretaria de Estado da Cultura, e que a pedido dele foi fotografado expressamente para constar aqui. Agora fiquei curiosa em saber a sua história, certamente não foi cá fabricado...
Muito obrigada, Luís, por nos dar a conhecer um lindíssimo exemplar que veio enriquecer o post e que assim também beneficia de alguma visibilidade. Bem a merece e não entendo até por que razão, sendo um exemplar raro em Portugal, não é tratado como objeto museológico e tornado acessível aos olhos do público, no Palácio da Ajuda ou noutro museu nacional.

18 comentários:

  1. Oh Maria, your azulejos are gorgeous! We used to make them when my husband owned a ceramic factory and we also had them in our past house too. I have modern ones now, but I really like the Portuguese kind the best!! Thanks for sharing your beautiful things.
    FABBY

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Hi Fabby,
      I wasn't aware that these tiles for tile stoves were still made in recent times...and even less in your part of the world in your own former factory, but while preparing this post I found out they're again being made in central Europe.
      I don't think these ones are Portuguese - although they were bought in Portugal - since we have no tradition of using this kind of ceramic stove.
      Thanks for your kind comment.
      Hugs

      Eliminar
  2. Olá Maria,

    Já há muito tempo que não comentávamos nenhum post seu, mas dada a temática ser muito cá de casa e esses "azulejos" lindíssimos...
    Cá vai: também temos dúvidas que se possam chamar azulejos, strictu sensu, dada a forma que possuem e dimensão que parece que têm. As referências que temos encontrado denominam-nos de placas cerâmicas para esse tipo de aquecedores tão típicos da Europa fria.
    Parabéns pela compra!
    Beijinhos

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Caros AM-JMV,
      Ainda bem que de vez em quando um ou outro post os faz aparecer por aqui!
      Na verdade eu hesitei em chamar a estas peças cerâmicas azulejos, mas afinal o nome alemão original "Kachelofen" significa fogão de azulejos e em inglês é usado o termo "tile stove" ou "tiled stove", so ...
      Obrigada pela visita.
      Um abraço

      Eliminar
  3. Olá,
    Obrigado por tão educativa postagem. Se não fosse por ela, eu jamais saberia da existência deste tipo de azulejo que é quase um tijolo refratário.
    abraços

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Amigo Fábio,
      Acredito que na sua zona do Brasil nunca tenha havido nada disto, não há frio que o justifique, mas no Sul, no interior do estado de Santa Catarina, por exemplo, de forte colonização alemã, quem sabe se não se terão usado estes fogões?
      Estamos sempre a aprender, não é?
      Um abraço

      Eliminar
    2. Talvez no Rio Grande do Sul (imigração alema) e Paraná (alemães e poloneses) também, mas acho pouco provábel tão lindos assim, com azujelos. É mais provável que se encontem os mais simples, de ferro fundido mesmo, e se houver algum cerâmico, de tijolo refratário simples.
      abraços!

      Eliminar
    3. Eu lembrei-me logo do estado de Santa Catarina porque é de lá a minha nora que até tem uma costela alemã :)
      A cidade dela é fria no inverno, fica relativamente perto de Blumenau que é uma autêntica cidade alemã no Brasil!!!
      Tenho que lhe perguntar se ela alguma vez viu um fogão destes.
      Bjs.

      Eliminar
  4. Cara Maria Andrade

    Mais um belíssimo trabalho. Desconhecia que estava por trás tecnologia romana.
    Sempre os Romanos, Trás-os-Montes é um território repleto de vestígios de legados romanos( por exemplo tenho reparado que muitos dos nomes das pessoas são romanos) mas como no resto do território português não conheço que esta tecnologia tenha sido usada ou deixado vestígios.
    Mais uma vez obrigado por este tão elucidativo post.

    Um abraço

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Boa noite, Joaquim Malvar,
      Eu é que agradeço a oportuna achega.
      Realmente não é por acaso que falamos uma língua latina, a romanização fez-se por todo o território e deixou aqui muitos vestígios.
      Quanto ao hipocausto, sempre o conheci em Conímbriga, não sabia o nome, mas conhecia a estrutura cujos arcos se vêem nas zonas de termas e servia para aquecer água e fazer o vapor ou o ar quente circular por baixo do chão e aquecer todo o ambiente. Deve haver outros hipocaustos nas ruínas romanas pelo país fora...
      Um abraço

      Eliminar
  5. Dear Maria,
    did I understand right, Portogese people have usually no Fogão de cerâmica? Thats amazing because they have so many wonderful tiles. I have a Fogão de cerâmica at my house, too. Your tiles are really beautiful.
    Best greetings, Johanna

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. You understood it right, dear Johanna, we have no Kachelöfen around here. But now I see they're still usual in Germany and neighbour countries.
      We have always had fireplaces and cast iron stoves, similar to the French one you can see above, but with no tiles, which is a pity because they're really beautiful!
      Hugs and thanks for visiting.

      Eliminar
  6. Mais um belíssimo post, em que a partir de quase nada, a Maria Andrade fez uma pequena, mas bem conduzida investigação e identificou a que se destinavam esses azulejos tão peculiares.

    Adoro esses fogões de cerâmica. Uma amiga minha tinha um deses fogões numa casa antiga em Paris, uma "poêle" e era um encanto. Julgo que devem ter sido muito comuns em França, pois a casa dela embora fosse num bairro bom, não era nenhum palácio.

    Recentemente vi um desses fogões no Palácio da Ajuda, mas na parte reservada aos serviços, numa sala que antecedia o gabinete do Director do Instituto dos Museus.

    Bjos e parabéns pelos azulejos e pelo post

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Muito obrigada, Luís. Estes fogões franceses são mesmo bonitos, muito semelhantes às nossas salamandras, só que têm este tipo de azulejos a embelezá-los. Não sei é se usam a tal tecnologia dos fogões maiores que se veem nos outros países.
      Sabe que eu andei a procurar nos palácios nacionais pelo Matriznet se cá haveria fogões destes, o meu marido insistia que devia haver no Palácio da Pena ou da Ajuda, mas eu não encontrei nada. Acabei por ver um lindíssimo no Museu da Cidade, fabrico da Fábrica do Rato, todo a azul e branco, mas não sei como funcionaria, se teria o tipo de construção dos fogões alemães e austríacos.
      Pensando melhor, acho que ainda o vou acrescentar aqui. :)
      Beijos

      Eliminar
  7. Vi este tipo de forma de aquecimento em vários palácios europeus, mas em Portugal não me ocorre nenhum em que tenha visto tal tipo de fogão cerâmico.
    Talvez porque, ao longo dos tempos, nos tenhamos convencido que temos um clima estupendo, sem necessidade de tais "modernismos" e "esquisitices".
    Realmente, e relativamente, o nosso clima não é mau, mas quando a temperatura desce ... acabamos por passar mais frio do que pessoas em climas mais rigorosos, que, devido à necessidade, pensam melhor que nós no seu conforto; por causa desta "nossa invenção" muitos de nós acabamos por viver cheios de reumatismo e artroses, e inundados de roupa!
    Gostei muito desta sua pesquisa, digna de Poirot, pois o tardoz das peças é totalmente diferente daquilo que vemos habitualmente, e até o brilho delas é-nos estranho.
    As decoração é lindíssima, e imagino que o fogão que fosse revestido com este tipo de material deveria ser lindíssimo.
    No entanto, não consigo deixar de pensar no trabalho insano de escravos que, nas catacumbas, deveriam suar em bica e sofrer horrores com o calor, quando alimentavam com troncos de árvore o hipocausto que surge nas ruínas romanas de uma das casas de Conímbriga.
    Nos grandes palácios esse tipo de trabalho de alimentação da fornalha era sempre feito a partir de uma divisão diferente daquela a que o fogão se destinava a aquecer.
    Interessantes, curiosas e bonitas, estas suas peças
    Manel

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É bem verdade o que diz, Manel, convencidos de que vivemos num país de clima ameno, nunca nos protegemos devidamente das temperaturas frias de inverno sobretudo do interior e do Norte do país.
      Por outro lado, já estive em cidades europeias com temperaturas de 0º em que desde transportes até qualquer loja ou habitação, ou mesmo esplanadas, estão sempre aquecidos – às vezes exageradamente, diga-se – e quando se vai à rua não há tempo para sentir frio...
      Aqui as coisas já melhoraram muito a esse nível, mas já no tempo em que “andámos a viver acima das nossas possibilidades”! (Não engulo esta nem por nada - GRRRRR)
      Estes fogões parece que têm uma eficiência energética superior à das nossas lareiras e salamandras, por isso foram e ainda são tão usados na Europa mais fria.
      Mas se nos lembrarmos de como este tipo de aquecimento começou, com o tal hipocausto romano, imaginamos logo os horrores de autêntico inferno em que viviam os alimentadores das fornalhas debaixo do chão, escravos, obviamente, como bem referiu.
      Um abraço

      Eliminar
  8. Pronto, a referência a mais um destes fogões de faiança, existente numa colecção portuguesa enriqueceu o seu post. Julgo que faria parte do recheio do Palácio, até porque transportar uma destas peças não é simples. Seria interessante conhecer-lhe o fabrico. O mais certo é ser estrangeiro, pois tirando a Fábrica do Rato, julgo que mais ningém os fez, mas nunca se sabe.

    Bjos

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Também acho que o fogão é estrangeiro, talvez alemão ou dessa zona...
      Já reparou, Luís que a fotografia está bastante mais clara? Foi o nosso amigo Fábio que me fez esta surpresa. Tratou-a no photoshop e depois enviou-ma com toda esta luminosidade. Milagres de tecnologias que eu não domino!
      Um abraço

      Eliminar