segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Mais faiança atribuível a Bandeira ou a Fervença

Já que o Luís, do blogue Velharias, iniciou uma tentativa de sistematizar as diferentes  decorações de pratos de faiança atribuídos à Fábrica da Bandeira  (http://velhariasdoluis.blogspot.com/2011/02/ainda-fabrica-da-bandeira.html)  que também sabemos estarem muito próximos da produção Fervença, decidi mostrar aqui mais alguns exemplares que, tal como os anteriores, fotografei em casa de familiares.

A característica  que mais me faz acreditar que pertencem à mesma família, para além das tonalidades de amarelo e cor-de-laranja, é a presença das barras concêntricas, nessas tonalidades, mas também por vezes em azul ou em vinoso, para além das cercaduras de flores e folhas, que variam muito.
Essas características também poderão depender do período de fabrico, mais tardio ou mais recuado, e lá ficamos nós à deriva outra vez.

Este prato, com as mesmas riscas concêntricas, tem umas flores azuis na aba que me fazem lembrar um que a Maria Isabel mostrou em http://leriasrendasvelhariasdamaria.blogspot.com/2011/01/faianca-de-fervenca.html e que ela atribuía a Fervença.

Este exemplar, embora tenha uma cercadura muito semelhante às de peças atribuídas a Bandeira, para mim tem um ar mais de Fervença, talvez pela combinação dos tons de verde com amarelo, que resulta num efeito cromático diferente, mas é um palpite pouco fundamentado.


Entretanto, encontrei muita faiança num catálogo da leiloeira Leiria e Nascimento que tenho cá em casa. Eles não arriscam qualquer atribuição, descrevem as peças como faiança portuguesa do séc. XIX, mas acho que vale a pena observarmos e fazermos comparações.


O motivo central é sempre peixes, inteiros ou em postas, em geral com talheres. Muitos têm cercaduras na aba do tipo que é costume atribuir a Coimbra, mas os números 376 e 377 apresentam barras concêntricas, tonalidades e cercaduras que me levam a identificá-los como Bandeira. Os números 613 e 609 da primeira fotografia também me fazem pensar em fabrico de Gaia, mas deixo aqui as fotografias à consideração de quem se queira pronunciar.


Finalmente, neste conjunto de pratos que encontrei noutro catálogo da mesma leiloeira, há dois pratos identificados como da Fábrica da Bandeira, o nº 77 e o nº 81. Em relação a este e ao nº 78, que não tem atribuição, refere-se ainda que se trata do busto de D. Miguel, ao centro. 
Toda esta variedade de exemplares, sem marca, com diferentes cores, motivos e decorações na aba, acabou por reforçar em mim a ideia de que é extremamente difícil atribuir um local de fabrico a esta faiança.

8 comentários:

  1. Olá Maria Andrade.
    Excelente post.
    Acredite, perdi o meu comentário por duas vezes...lol

    Os exemplares que mostra para mim foram também todos fabricados no norte.

    o 1º exemplar denota para mim características vindas de Coimbra com Domingos Vanderlli que em 1787 fundou a fábrica Cavaquinho; a bordadura em policromia com cercadura de flores, as árvores ligeiramente inclinadas assim pintadas já no século XVIII em Coimbra, dada a época, agora em esponjado, e o motivo central, o galo em amarelo, neste a cercadura em rodapé em riscos de cor verde. Motivo mais tarde vastamente pintado pela fábrica Cavaco sempre com o rodapé em verde, embora apresente ligeiras diferenças, dada a época e diferentes pintores, a essência está lá, sou eu a dizer.

    Quanto ao 2º exemplar, é como diz,igual ao meu, as flores, a risca em vinoso e, um esmalte de brilho intenso o que aventa a hipótese de fabrico de Fervença. Se acrescentarmos que esta fábrica foi expropriada e comprada por Joaquim Nunes da Cunha em 1787 que tinha a fábrica fundada por Vanderlli, do Cavaquinho...
    E o mesmo se aventa para o 3º prato.

    Poderão contudo ter saído de outras fábricas como; Fábrica Pereira Valente de Gaia 1884,fundada perto das Devezas, obteve um 2º prémio na exposição de cerâmica do Palácio de Cristal Portuense em 1887 onde Charles Lepierre acrescenta"faiança esmaltada e também de vidrado simplesmente plumbífero, sem estanho, que se assemelha, pois, por este lado, à faiança fina;contudo, pela pasta, não deixa de ser faiança ordinária.
    A fabrica Bandeira ignora-se a data da fundação, sabe-se que esteve em laboração entre 1844 a 1882. Há quem afirme que já funcionava no século XVIII. Diz no post que a leiloeira atribui 2 pratos à fábrica Bandeira, mas como tal é possível, não se conhece nenhum exemplar marcado "dito por Ramiro Mourão proprietário da fábrica da Torrinha, que a fábrica da Bandeira teve inicio por 184... e afiança que nunca marcou os seus produtos".

    A fábrica Carvalhinho ou Corticeira do Porto fundada em 182...a 1878. Aplicaram uma policromia de vermelho inglês e o verde esmeralda a grande fogo,melhoramento que se deve aos estudos , assim como as primeiras gravuras em cobre feitas no País para a estampagem da ornamentação puramente comercial na qualidade que tanto se recomendava em ser pintada à mão praticada pelos nossos ceramistas até meados do século XIX.

    Os motivos de peixes inteiros e cortados foram largamente copiados, encontram-se nas fábricas de Darque, Gaia, Aveiro, Estremoz...

    Quanto aos pratos apresentados por último,na maioria são visíveis as características que comecei por aventar trazidas de Coimbra por Domingos Vanderlli; os bustos eternizados no século XVIII, as árvores inclinadas, no nº 82 a cercadura e as pombinhas eternizadas no cantão popular da Fabrica Cavaquinho?

    O que sei dizer...são muito bonitos, sim senhora!

    Uma coisa é certo, seremos os descendentes das pesquisas iniciadas por José Queiroz no século XXI...lol

    Obrigada por nos mostrar belos exemplares.
    Beijos.
    Isabel

    ResponderEliminar
  2. Pois é, Maria Isabel, queremos muito identificar as peças, damos voltas e mais voltas, procuramos exemplares em livros e catálogos, analisamos e comparamos, mas chegamos sempre à mesma conclusão: é dificílimo determinar o fabrico de faiança portuguesa não marcada, sobretudo originária de centros fabris onde havia uma proliferação de fábricas e oficinas.
    Andava empolgada a parecer-me q havia alguns traços comuns que podiam ser identificativos, mas com estas fotos dos catálogos desanimei um pouco...É q há as mesmas cores com cercaduras totalmente diferentes, ou o mesmo motivo central sem mais nada em comum, cercaduras parecidas mas com cores e motivos q parecem doutra região, enfim, uma baralhação!!!
    Os nomes das fábricas e a sua história são razoavelmente conhecidos, o pior é quando toca a identificar a sua produção não marcada.
    Resumindo, apanhou-me numa onda desistente...
    Beijinhos.

    ResponderEliminar
  3. Cara Maria Andrade

    Li o seu post duas vezes e voltei à frente atrás para verificar os números e chego também à mesma conclusão que a Maria Andrade. Distinguir Bandeira ou Fervença parece ser complicado. Mais, as próprias leiloeiras parecem também não saber distingui-las, o que para nós é bom, pois quer dizer que somos tão ignorantes como os peritos, que essas casas contratam para identificar as peças. Por exemplo, na última imagem, o 77, 78 e 81 parecem nitidamente saídos da mesma fábrica e daquilo que nós identificamos como Bandeira. Quantos aos outros, remeto-me a um prudente silêncio.

    Relativamente aos peixes, concordo com as atribuições dadas e com a sua opinião e sobre os dois primeiros pratos apresentados, remeto-me outra vez a um silêncio de ignorante

    Mas é útil, juntarmos estas imagens e tentar associa-las como se faz com os cromos e descobrir semelhanças

    ResponderEliminar
  4. Suspeito que as leiloeiras também não o saibam de fonte segura, e que se limitam a dar uma estimativa baseada na experiência de quem passa muita coisa pela mão.
    Não confio muito nos catálogos das exposições, apesar de ser algo que nos pode abrir caminhos de exploração para possíveis atribuições.
    Ou o estudo é feito por especialistas no campo com trabalho baseado em dados científicos provenientes dos arquivos das próprias fábricas (quando os há), notas de encomenda, estudo químico da composição das pastas, cores, vidrados, ou então anda-se sempre na suposição com base na análise estilística da decoração.
    Mas como se sabe que os pintores e restantes trabalhadores deste campo circulavam de fábrica para fábrica, que os próprios donos das fábricas eram relacionados entre si, pois como corporação que eram, formavam clãs algo fechados, as atribuições, para além de difíceis, são mesmo especulativas.
    Não que haja problemas em especular, pois através desta via vai-se sabendo mais e está-se mais atento, mas não é mais que isto mesmo.
    No entanto, esta especulação dá-nos prazer, e vão-se criando bases de dados, para além de se ter uma noção mais rigorosa daquilo que se foi produzindo ao longo dos séculos, e o prazer estético da contemplação é, realmente, algo a não desprezar.
    Mas que se façam bases de dados e hipóteses de classificação, pois serão elementos de grande valor para a história da cerâmica em Portugal.
    Manel

    ResponderEliminar
  5. Luís, parece q continuamos às apalpadelas nestas atribuições...
    Surpreendeu-me a quantidade de pratos do mesmo género q encontrei no primeiro catálogo q refiro. Eram 5 grupos de pratos numerados, como os dois primeiros conjuntos q aqui mostro, ao todo 32 exemplares. Perguntei a mim própria de onde teria vindo tanta coisa parecida duma só vez... Tirei logo a conclusão de q não seriam muito antigos, acredito q sejam peças do final do séc. XIX ou mais até do início do XX.
    Em relação ao 2º catálogo, também acho, como o Luís, q aqueles três pratos com o pretenso busto de D. Miguel devem ter sido fabricados no mesmo sítio, muito provavelmente Bandeira, a acreditar nas atribuições com algum fundamento q já fizemos.
    Já não estou tão confiante como há uns dias,
    mas não perdemos nada em continuar a ver o maior número possível de exemplares...

    ResponderEliminar
  6. Manel,também me parece q os catálogos das leiloeiras não ajudam muito na atribuição, a vantagem de os examinar é vermos muitas peças e nalguns casos podem ajudar a confirmar palpites q tenhamos.
    O ideal era realmente haver registos das fábricas(uns livritos de padrões davam um jeitão!!!) ou então o estudo ser feito por comparação com colecções antigas, de coleccionadores contemporâneos do tempo de fabrico e há alguns casos desses. Nas colecções dos museus há muitas doações de particulares e esses muitas vezes sabiam a proveniência do q estavam a doar, por isso é q confiamos mais nas atribuições feitas pelos museus, e claro também confiamos nos especialistas q têm em cada área.
    Há muito a fazer neste campo, mas o conhecimento vai aumentando e cada um de nós pode dar um pequenino contributo...

    ResponderEliminar
  7. Tenho um prato exactamente igual ao 378 e um outro, parece-me que raríssimo, com um macaco a tocar trompa de caça em floresta tropical. Sou professor de história, reformado há um ano, e resolvi saber um pouco mais do que há lá em casa.Apesar de hoje nada do que tenho ser negociável,gostava de ter uma ideia do valor destas peças.Se soubesse colocar aqui fotos do que por lá existe acrescentaria algo mais mas... fica aqui e por aqui este primeiríssimo momento de pesquisa. Aguardo, ansioso, qualquer resposta. Cumprimentos.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Seja bem-vindo ao clube, caro Francisco Camejo!
      Essa é uma caraterística comum a muitos de nós, amantes de velharias, querer saber algo mais sobre as peças que temos por casa ou que nos atraem em lojas e feiras.
      Os pratos de postas de peixe e talheres foram muito populares e fabricados em vários locais, no caso do seu acho difícil atribuir-lhe origem. Quanto a esse que refere com um macaco a tocar trompa,é certamente raro e se quiser enviar fotos pode utilizar o endereço de e-mail que encontra no meu perfil.
      Cumprimentos

      Eliminar