segunda-feira, 7 de março de 2011

Oveiro em "flow blue" inglês

No Brasil, a loiça inglesa azul e branca decorada por transfer-print é muito apreciada e consequentemente cara, quando aparece à venda nos antiquários, em especial a que lá se designa por borrão ou borrãozinho, isto é, o flow blue inglês, traduzido em Portugal por azul escorrido.

Lá, como cá, é nas feiras de velharias que se podem encontrar as pechinchas e assim, por um pequeno golpe de sorte, vi este oveiro à venda na feira da Rua do Lavradio, no Rio de Janeiro, pela módica quantia de 5 reais, ou seja, cerca de 2 euros.
A única marca que tem é a palavra ENGLAND, mas este padrão decorativo, chamado "Beauty Roses", é da firma W. H. Grindley & Co que operou em Tunstall, Stoke-on-Trent, Staffordshire, entre 1880 e 1991.
Penso que seja uma peça já do séc. XX, mas a única certeza que tenho é que com a marca ENGLAND é seguramente posterior a 1891.
Tem a particularidade de ser um oveiro duplo, servindo assim para tamanhos diferentes de ovos. A parte maior, que está decorada, serve para ovos de gansa, mas virando-se o oveiro ao contrário fica o tamanho de ovos de galinha ou pata. Estes pormenores eram importantes numa época em que o hábito de consumir ovos quentes ao pequeno-almoço estava generalizado em alguns países da Europa e nos Estados Unidos, consumindo-se ovos de vários tipos de aves.


Ao contrário do que se possa pensar, o termo flow blue não designa uma tonalidade de azul, mas sim uma técnica decorativa em que se deixa o pigmento azul escorrer ou esborratar para fora dos limites do desenho e assim obtém-se este efeito de borrão, daí a razão do termo brasileiro.
Foi produzido em Inglaterra sobretudo entre 1830 e 1920, mas também utilizado na Alemanha, na Holanda e nos Estados Unidos e até em Portugal, pela Fábrica de Loiça de Sacavém. É nos Estados Unidos que esta técnica decorativa é mais popular e mais coleccionada e talvez venha dessa influência o apreço que os nossos amigos brasileiros têm por ela.


Conjunto de peças Copeland em flow blue, três delas no padrão Ruins ou Melrose

Marca de 1848, ano representado pela letra U na registration mark das peças Ruins ou Melrose

7 comentários:

  1. Olá Maria Andrade,
    Gostei muito da explicação sobre o uso duplo da peça, para ovos de tamanhos diferentes! Como eu jamais pensei no consumo de ovos a não ser de galinha, já que por aqui, além do ovo comum, só se come o de codorna, isso para mim foi uma bela novidade, pois as peças como esta fabricadas por aqui são assim como a sua, mas a decoração vem sempre na parte menor, e para mim, a parte maior era meramente o pé da peça.
    Obrigado pela aula!!
    abraços

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  2. Olá Fábio,
    Seja bem-vindo de novo ao meu blogue!
    Lembrei-me de si quando fiz este post porq sei q também frequenta a feira do Lavradio...
    Quanto ao oveiro, é objecto q nunca usei, porq nunca tive o hábito de comer ovos quentes, seja de q ave for, mas achei graça a este, ainda mais por ter a barra em "borrãozinho" (acho o termo delicioso!) e depois fui investigar sobre ele, daí a história q aqui contei.
    Abraços

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  3. Olá Maria Andrade

    Tal como o Fábio, gostei da explicação sobre o modo duplo da utilização deste oveiro. Para mim,a parte não decorada, seria a base do oveiro :)Não está no hábito alimentar dos portugueses, comer ovos cozidos desta maneira e muito menos de aves variadas.Há poucos anos, ainda se via com frequência ovos de codorniz, mas ultimamente nem tanto. Quanto a ovos de gansa ou pata, nunca os vi comercializados por cá.

    Mas pus-me para aqui a falar de ovos, e nem lhe disse que a decoração do oveiro que aqui mostra é muito bonita.
    Tenho um chávena de café e respectivo pires (Sacavém),cuja técnica utilizada, penso ser flowblue.
    Bjs
    Maria Paula

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  4. Olá Maria Paula,
    Que bom ter a sua presença de novo por aqui!
    Penso que tem razão em considerar a parte não decorada do oveiro como a base. Também é assim que eu o tenho sempre, até porque a marca está nessa parte branca e mais pequena e as marcas aparecem na base dos objectos. De qualquer modo, a peça é ambivalente até na posição em que pode estar...
    Embora simples e despretensiosa, achei-a engraçada e um bom pretexto para falar aqui da decoração em "flowblue".
    Abraços

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  5. De facto, o Oveiro é bonito e a particularidade de servir para ovos de galinha e gansa torna-o muito curioso. De facto, aqui em Portugal não há muito o hábito de comer assim os os ovos e não é simples encontrar estas peças. O Manel que gosta muito dos ovos assim servidos, cozidos na clara e crús na gema, aproveitou uma ida a Paris para comprar um par destas peças.

    Enfim, já cheguei a Paris e nem a felicitei pelo post e pela clarezas das explicações

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  6. Pois é, Luís, achei q o oveiro, embora uma peça simples, merecia um post por ser diferente, ter uma bonita decoração em "borrãozinho" e ter sido comprado numa feira de velharias no Rio de Janeiro... veja só até onde vai o meu vício de andar por feiras de velharias!!!
    Então o Manel gosta de comer ovos mal cozidos, os chamados ovos quentes, com esse ritual de oveiro, colherzinha para estalar a casca e depois saborear lentamente o conteúdo?
    Que pena ele não ter vindo aqui falar disso!
    Um dia destes hei-de exprimentar, não posso é deixar a gema muito crua...

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  7. André Luís Loureiro Nista28 de janeiro de 2024 às 17:41

    Boa noite Maria Andrade;
    Tive a grata surpresa, pesquisando fotos de ‘egg cups’, de encontrar seu blog e este prazeiroso artigo.
    Há uma semana comprei um oveiro semelhante ao seu, mas com padrão decorativo “Shanghai”, também identificado apenas por England.
    Sabia ser o padrão “Shanghai” da Grindley & Co, porém procurava mais informações sobre a peça. Aqui as encontrei.
    Assim, aqui passo para deixar meu agradecimento por este artigo escrito há quase 13 anos e que me foi tão proveitoso.

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