Há uma variada nomenclatura relativa ao tipo de pasta usado na faiança inglesa desde o século XVIII que eu confesso ter muita dificuldade em dominar. Vou-me socorrendo de livros que tenho sobre o assunto, mas sem nos passarem várias peças pela mão, é difícil ter certezas.
Estas distinções podem parecer um preciosismo, mas em peças não marcadas, como são quase todas, podem dar um valioso auxílio à datação.
Estas distinções podem parecer um preciosismo, mas em peças não marcadas, como são quase todas, podem dar um valioso auxílio à datação.
Sei que a primeira fórmula a ser desenvolvida em faiança fina para competir com a porcelana foi o creamware, como o nome indica uma faiança de cor creme, introduzida no fabrico cerâmico a meados do século XVIII. Durante muito tempo pensei ser essa a pasta desta minha leiteirinha.
Acontece que ao fotografá-la agora para o post, detetei uns tons azulados em certas zonas do vidrado, o que carateriza o pearlware, desenvolvido mais para o final do século, basicamente um creamware com acrescento de caulino e vidrado com óxido de cobalto - daí o tom azulado - e já não com óxido de ferro. Pretendia-se obter faiança num tom mais próximo do branco, tendo Josiah Wedgwood (1730-1795) um papel determinante na introdução dessa pasta a que ele chamou pearl white.
A leiteira tem um formato que vem das baixelas de prata - com a secção em losango, e todo o bojo com uma moldagem espiralada - muito usado na cerâmica inglesa deste tipo no final de setecentos e início de oitocentos, sobretudo nos bules, as peças que tenho visto mais. Apresenta uma reserva florida de cada lado do bojo, ao estilo das porcelanas chinesas "família rosa".
Numa fabulosa coleção de bules ingleses antigos integrada nos museus Norfolk - Norfolk Museums & Archeology Service - encontrei um com o mesmo tipo de molde, ou seja, secção em losango, corpo com espiras e reentrância em meia cana entre o corpo e a base, atribuído a Don ou Mexborough de Yorkshire.
Um outro nome que é associado a peças deste tipo do início do século XIX (geralmente datadas entre 1800 e 1806) é o de Thomas Harley de Staffordshire mas o bule da coleção dos museus Norfolk que lhe é atribuído já é decorado, não com pintura à mão, mas pelo processo de estampagem ou transfer printing.
Voltando à leiteira, quando a encontrei há uns anos na Feira de Algés não conhecia nada sobre este tipo de faiança e nem sequer sabia que era inglesa. No entanto, houve algo que me atraiu nela e acabei por acertar na mouche. Claro que preferia ter encontrado um destes bules, mas estes são à partida mais valorizados e estão certamente mais a recato, em coleções ou nos armários dos antiquários. Como não dou muito dinheiro por estas coisas, vou continuar a esperar por um dia de sorte...
Acho que de vez em quando ao olhar para certas peças, mesmo sem saber nada sobre elas, tenho um feeling de que estou na minha área de eleição... :)
Muy interesante y tu lechera es preciosa
ResponderEliminarUn Beso
All are gorgeous! I adore the first one. It's my favorite! Thanks for stopping by my blog and commenting on my shaving mugs post!
ResponderEliminarHugs, Cindy
Dear Maria Andrade,
ResponderEliminaryou are a true specialist for such things. I have never seen nor known those dairy and tea pots. But it sounds really interesting. Thank you so much for so many informations.
I wish you a wonderful week.
Best greetings from Johanna (and little Wiskicat)
Estou com alguma dificuldade em arranjar o tempo para comentar, mas não queria deixar passar esta peça, pois, para além de a achar de uma boa manufatura, considero-a um encanto.
ResponderEliminarSeguramente não a deixaria escapar se me passasse pela mão!
Que bom que ela não entrou na posse de alguém que a poderia deixar num canto a ganhar pó, sem que se pudesse jamais admirar, e, por um descuido de um/a desastrado/a qualquer, iria parar ao lixo feita em dez mil bocados!
O canelado espiralado, numa aproximação às peças de prata, o desenho decorativo manual que, imeditamente que lhe pus os olhos em cima, me pareceram familiares à família rosa da companhia das Índias (a maior parte das peças produzidas sob esta influência, em moda na altura, datam do período de 1785-1815), são tudo motivos para gostar imenso desta peça.
Tal como a Maria Andrade, experimento sempre alguma dificuldade em distinguir o "creamware" do "pearlware", mas, pela tonalidade que aparece na fotografia, creio ser uma peça em "pearlware", mas sem qualquer certeza.
Tal como frisa no seu texto, esta cerâmica queria aproximar-se da brancura da porcelana oriental, o que não era possível na "creamware", pelo que começou a apresentar uns certos laivos algo azulados, fruto da adição de pequenas quantidades de óxido de cobalto ao vidrado.
Esta cerâmica tinha a particularidade de, à época, possuir preços mais em conta que o original oriental (se não exigissem mais do que 2 cozeduras, pois quando era necessária uma terceira, o que seria necessário após uma pintura sobre o vidrado - processo de esmaltagem -, a produção tornava-se já bastante onerosa); o que é interessante, entre "connoisseurs", estas peças hoje acabam por atingir preços, senão iguais, pelo menos mais elevados que a que pretendiam imitar ... as ironias do destino.
Os meus parabéns pela peça que é de invejar
Manel
Caro Manel,
EliminarJá imaginava que andasse muito ocupado, porque calculava que esta peça lhe suscitaria algum comentário, apreciador que é, como eu da faiança inglesa.
Ainda bem que a sua opinião coincide com a minha relativamente ao tipo de pasta da leiteira.
Também é verdade o que diz em relação a estas peças inglesas, quer em faiança, quer em porcelana, que pretendiam copiar ou aproximar-se o mais possível da porcelana chinesa: na altura as inglesas eram muito mais acessíveis, mas hoje em dia as cópias inglesas atingem preços várias vezes acima dos originais chineses, sobretudo porque há pouca quantidade para o nº de colecionadores ingleses e americanos e...
Eu tive sorte nesta compra porque paguei só uns muito razoáveis 10 eurinhos... :)
Oxalá o trabalho comece a aliviar mais e passe a ter mais tempo livre para uns momentos de recreio... pelo menos bloguista!
Um abraço
Já cá tinha passado, mas só tinha visto as imagens, sem tempo de ler o texto. As peças também são muito chamativas e eu que não sou um coleccionador de louça inglesa, também compraria esta sem hesitar. Na verdade, eu gosto de quase todas as antiguidades, desde à porcelana à talha, passando pelas pratas. Mas como tenho pouco dinheiro e espaço restrinjo as minhas escolhas.
ResponderEliminarFico sempre é espantado com o enorme fascínio que a louça oriental exerceu na Europa quase até aos dias de hoje. Tenho sempre a impressão, que em cada post sobre faiança ou porcelana que aqui fazemos temos sempre um arquétipo chinês por de trás. Este mundo de cópias feitas de cópias a partir de um longínquo original chinês é fascinante, porque é muitissimo criativo.
Abraço
Os nossos gostos são muito ecléticos, Luís.Também gosto de quase tudo o que é antigo, mas ao contrário do Luís, os meus gostos estendem-se a muita coisa já do século XX.
ResponderEliminarA porcelana chinesa que tanto deslumbrou os europeus quando cá chegou, é realmente precursora de quase tudo o que se foi fazendo na Europa em faiança e em porcelana. Acho que só a azulejaria escapou a essa influência, mas não tenho a certeza...
Abraços
Olá,Maria Andrade
ResponderEliminarBelíssímos os seus Bules
eu também não deixaria escapar um que fosse se me aparecesse algum assim
Muito bonitos
Parabéns
Abraço
Uma palavrinha ao Luis
Então o menino gosta de pratas antigas
Essa eu não sabia
Tenho dezenas de peças antigas
todas de prata
Depois entro em contacto com o Luis no seu velharias
Um abraço
Olá Grace,
EliminarSeja bem vinda aqui ao meu blogue!
Na verdade os bules não são meus, quem me dera que fossem porque são uma preciosidade da faiança inglesa!
Pertencem a uma coleção fabulosa que eu refiro no texto, e eu acrescentei-os aqui por serem do mesmo modelo da minha leiteirinha.
Um abraço também para si e apareça sempre.