quinta-feira, 31 de março de 2011

Mais uma deliciosa Sant' Ana Mestra



Na sequência do post que fiz recentemente sobre a minha Sant'Ana Mestra, uma seguidora deste blogue, enviou-me fotografias da sua pequena imagem de Santa Ana com Nossa Senhora ao colo e segurando um livro, portanto também uma Sant'Ana Mestra.
Trata-se de uma escultura de pequenas dimensões em madeira policromada que se crê datar de finais do século XVII. Com efeito, a composição vertical, a postura rígida das cabeças, a ausência de teatralidade nas expressões, são características que antecedem o barroco do séc. XVIII.

              
No entanto, o cuidado posto no penteado da menina, com o cabelo enrolado e preso, assim como as bem executadas dobras do vestuário já fazem lembrar os pormenores mais elaborados do auge da estética barroca.                                  
Um outro pormenor interessante é que mãe e filha usam um firmal - ornamento em metal, tipo broche, usado no passado para segurar vestidos e outras peças de vestuário - em forma de flor, para unir os dois lados dos respectivos mantos, adorno que também aparece na minha Sant'Ana Mestra com características mais tardias.

                                        
Nesta fotografia são bem evidentes os sulcos verticais, quer das vestes, quer dos cabelos de Santa Ana,  característica que se atribui à escultura anterior ao século XVIII.
É sem dúvida uma deliciosa figurinha que aqui pude partilhar, graças à gentileza da sua dona ao enviar-me as fotos.
Agrada-me pensar que o criador desta imagem terá sido contemporâneo de duas personagens da nossa história que muito admiro: o Padre António Vieira (1608-1697)  e a Princesa, depois Rainha de Inglaterra, Catarina de Bragança (1638-1705).

7 comentários:

  1. Parabéns à dona desta bonita imagem de Santa Ana!
    Parece muito antiga realmente, e que bem ficava no meu oratório...
    Gostei de ver, obrigado por ter mostrado.

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  2. Caro anónimo,
    Agradeço a sua visita ao meu blogue e o seu comentário.
    A imagem, que também só conheço por fotografia, tem um ar muito doce e gracioso e como é pequenina,fica bem em qualquer lado.

    Um bom resto de fim de semana.

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  3. Cara Maria andrade

    Desculpe a minha ausência pelo seu blog, mas mudei recentemente de emprego e ando ainda atordoado.

    a estatueta é realmente uma graça e a tinta descascada dá-lhe uma grande beleza. Também tenho sempre uma curiosidade enorme por saber como são as costas das imagens. Muitas vezes é atrávés da visão do reverso que nos apercebemos da forma do tronco de madeira ou pedra que deu origem à obra. O Miguel ângelo dizia que a estátua já existia na pedra e ao artista competia desbastar e retirar o que estava a mais, até revelar a obra-prima. Por essa razão, O próprio Miguel ângelo se deslocava à pedreira para escolher o bloco de mármore que queria trabalhar, para executar uma Virgem, um Deus grego ou outra figura qualquer.

    A imaginária portuguesa é de muito boa qualidade e sem querer fazer comparações abusivas com Miguel Ângelo, é uma arte apaixonante.

    Abraços e mais uma vez obrigado à nossa seguidora misteriosa por disponibizar mais uma obra da sua colecção

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  4. Caro Luís,
    É sempre um prazer ler aqui os seus comentários, mas obviamente compreendo q há ocasiões em q não podem ser tão prontos como desejaríamos, as ocupações e complicações da vida real não o permitem...
    Às vezes só dá para vir aqui de fugida, isto é quase um vício! :)
    A propósito desta imagem de Sant'Ana, fui rever a Coleção Angela Gutierrez e lá estava uma imagem do séc. XVII em q figura o S.Joaquim, portanto mais um caso de desvio à norma das três iconografias oficiais.
    Também acho esta pequena imagem de Sant'Ana(cerca de 12cm) um verdadeiro encanto, tudo nela é apetecível, até as marcas do tempo!!!
    Um abraço e muitas felicidades para a nova etapa da sua vida profissional!

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  5. Julgo que encontrei um bom sítio. A biblioteca ...de um Museu!

    Quanto à imaginária, julgo que os santeiros tinham que obedecer aos cânones da Santa Madre Igreja, mas ao mesmo tempo, tinham que ser práticos e poupar tempo e dinheiro. Portanto teriam uma série de estátuas tipo, que com pequenas alterações, davam origem a 8 ou 9 santos diferentes. Uma vezes punham uma Torre e era uma Santa Bárbara, um alicate e era a Santa Apolónia, uma bandeja com olhos e era a Santa Luzia e por aí fora.

    Creio que alguns desvios à norma Tridentina explicam-se por causa desta "economia", bem como pelo facto de terem que adaptar santos antigos às novas modas.

    Abraços

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  6. Que inveja, Luís, durante muito tempo o meu sonho era trabalhar numa biblioteca ... ou num museu, veja lá! Ao Luís saiu dois em um! :)
    Cheguei a pensar em tirar uma pós-graduação na área de Bibliotecário Arquivista, mas a vida estava organizada de uma forma q não permitiria constantes deslocações a Coimbra, o tempo gasto no estudo, e etc. ...
    Mas fico feliz por si porq penso q está no sítio certo!
    O q diz sobre a execução dos santos a partir de figuras tipo a q depois só acrescentavam diferentes atributos faz todo o sentido, mas acho q nunca tinha pensado nisso.
    Um abraço

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  7. Obrigado. Também estou excitado com esta mudança e vamos lá ver se consigo acompanhar o nível de exigência deste novo local de trabalho

    Ainda sobre as imagens, é pelas razões que indiquei, que quando os santos perdem os atributos por um acaso da história é tão complicado identifica-los e é nessa altura que nos apercebemos como eles são todos parecidos e saídos de uma mesma matriz.

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